Sunça lê Gibi | Estórias Gerais - Wellington Srbek e Falvio Colin
Roteiro, Expressividade e BELEZA
SUNÇA LÊ GIBI
Sunça
2/23/20223 min read




Roteiro, Expressividade e BELEZA
A envolvente Estórias Gerais conta com o texto habilidoso de Wellington Srbek e os desenhos certeiros e impressionantes de Colin. É uma narrativa inteligente que brinca com lendas, causos e diferentes pontos de vista. Já no texto de abertura “Travessia”, Srbek nos conta de suas referências como Grande Sertão Veredas, Jorge Amado, Monteiro Lobato e Ariano Suassuna.
Estórias Gerais foi produzido em 1998 e publicado de maneira independente em 2001 com apoio de lei de incentivo a cultura. Nove anos depois, em 2007, foi publicada pela Conrad. Em 2012 ganhou uma nova edição pela editora Nemo impressa em tamanho original, em janeiro de 2022 foi novamente publicada pela Conrad em uma edição de luxo.
A trama se passa em 1920 no interior de Minas Gerais. Tudo acontece na cidade fictícia de Buritizal, lá é uma terra sem lei. Onde homens valentes, porém covardes, fortes porém fracos, comandam a região repleta de bandidos e violência. Estórias Gerais é dividido em capítulos: Antônio Mortalma, Tenente Floriano, Coronel Soturno, Odorico Pereira, O Pai-do-Mal e O Duelo. A cada episódio os personagens são desenvolvidos, a história caminha e o contexto geral só se completa ao final do quadrinho.
No primeiro conto percebemos a construção da narrativa. Vários pontos de vista, causos e lendas se confrontam na descrição sobre quem é Antonio Mortalma. Assim percebemos que a construção do livro é um conjunto de relatos sobre a história do Banditismo. De maneira genial a vida de um personagem afeta a de outro e vamos conhecendo tudo isso em idas e vindas do presente para o passado. Srbek é um ótimo contador de histórias e, junto a narrativa gráfica de Colin, cria uma trama que nos envolve. São personagens bem construídos e que têm uma linguagem e vida própria. Eita mineirês bunito sô.
Essas estórias trazem coronéis, bandoleiros, o exército e os sertanejos que acabam sempre sendo pegos no fogo cruzado. Também podemos ver as belezas naturais, o sobrenatural e o folclore daquela região. Um trabalho cuidadoso que representa bem o contexto, costumes e lendas de um povo e de seu local.
Sobre os desenhos, me faltam palavras. É difícil tentar descrever a beleza do traço de Colin. Seu uso do preto e do branco é impressionante. Retrata as luzes e sombras, as texturas e os detalhes com precisão e estilo. A construção da silhueta de seus personagens e a composição de seus quadros é cuidadosa e certeira. Reparem como de maneira simples e objetiva o mestre desenha os quadros de flashback com linhas tracejadas. Seus rabiscos expressivos e ágeis são sempre muito preocupados em retratar as paisagens naturais e animais com a beleza que merecem. É uma simplicidade rica em detalhes.
Um bom quadrinho nacional sobre temas brasileiros. Quer se divertir e se maravilhar? Tá aqui ô: Estórias Gerais. Aprender sobre o uso do preto e branco, composição? Se inspirar com um traço único, simples, detalhado e expressivo? Acompanhar uma história bem contada que te mostra como recortes narrativos, de maneira inventiva, contam boas histórias. Tá aqui ô: Estórias Gerais.
"Produzido entre janeiro e outubro de 1998, Estórias Gerais é considerado um dos melhores quadrinhos brasileiros já criados. Trazendo roteiro de Wellington Srbek e desenhos de Flavio Colin, a história em quadrinho se passa no sertão mineiro da década de 1920, em meio a coronéis e jagunços, disputas entre bandos rivais e pequenas narrativas fabulosas que se amarram em uma trama maior. Publicado originalmente de forma independente em 2001, o álbum recebeu no ano seguinte o Troféu HQMIX de Melhor Graphic Novel e Melhor Roteirista Nacional e o Troféu Angelo Agostini de Melhor Roteirista e Melhor Desenhista.
152 páginas – 2012 – Editora Nemo
Formato: 22,5 x 30,5 cm | Preto e branco | Português
Publicado em 23/02/2022
Nota do Sunça:





