Salve-se quem puder #19 - Maturidade

Faço terapia, medito e pratico esportes. Mas o que realmente mantém minha sociabilidade e minha norma social é a prática constante, e ininterrupta, de fingir maturidade.

SALVE-SE QUEM PUDERSUNÇA

Sunça

10/29/20252 min read

Faço terapia, medito e pratico esportes.

Mas o que realmente mantém minha sociabilidade e minha norma social é a prática constante, e ininterrupta, de fingir maturidade.

E, olha, modéstia a parte, sou bom nisso.

São muitos os momentos da simulação do desenvolvimento pleno, olho nos olhos de uma pessoa e converso com clareza e objetividade sobre coisas dais quais nunca ouvi falar. Converso sobre investimentos como quem entende de renda variável, mas minha única preocupação é a variação em preços de gibis. Faço planos estratégicos com a convicção de um profissional, sem demonstrar que sou uma pessoa que resolve a vida com um post-it e um café. Mantenho um olhar sério, concentrado, enquanto o cérebro grita: “será que ainda tem cerveja em casa?”.

Atuo como um adulto funcional, interessado em coisas adultas e funcionais, enquanto por dentro sou regido por um espírito de quinta série que vibra quando alguém fala “bunda” numa reunião. Me guio na incerteza de um saber inexistente. O que, convenhamos, é o mais humano dos saberes.

E agora surge um desafio.

Não é o aniversário que me preocupa, já me acostumei com a ideia do falecimento do “Sunça jovem e promissor”. O fato é que, em breve, terei um pequeno ser humano chamado Caetano, que vai me olhar como se eu soubesse o que estou fazendo.

Será que um pai pode passar boa parte do dia pensando sobre como será o próximo filme do Homem-Aranha? Deveria eu passar meus momentos de reflexão contemplando a vida e suas experiências? Mesmo quando o que realmente me inquieta é a atual situação do Galo? Um pai tem que se preocupar com coisas relevantes e importantes, não pode sair rabiscando postes e anotando toda e qualquer situação pra transformar em cartum. Caetano vem aí, e agora, mais do que nunca, é preciso fingir maturidade. É por isso que pago boletos no prazo e peço meia porção de torresmo (Porque tô controlando).

Quanto mais a paternidade se aproxima, mais eu percebo que talvez o segredo seja aprender, compartilhar e viver. Aceitar o caos da vida com elegância e um copo de cerveja. Talvez a maturidade não seja algo pronto, preparado e definido. Não é uma lista de regras, ações, nem dizeres de moral e bons costumes. É possível que a maturidade venha de viver, de aproveitar suas vivências e saber compartilhar as experiências com as pessoas ao redor. Viver, tropeçar, aprender, compartilhar e se permitir continuar um pouco tonto, mas de coração inteiro. Quem sabe tudo o que tento esconder não é exatamente o que me faz maduro? Maturidade não é ter todas as respostas, é ter a capacidade de rir das perguntas e escolhas erradas.

(Tá vendo como finjo bem a maturidade?)

Acho que essa reflexão toda merece um brinde. Então bora pro boteco celebrar a nova era que se aproxima: menos sono, mais fraldas, zero controle e muito assunto pra cartum.